O documento, subordinado às normas gerais colocadas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), tem como objetivo determinar os esforços necessários nos diversos segmentos da indústria de embalagens e as metas estipuladas para o setor em termos de reciclagem. Entre outras ações, o texto prevê a necessidade de se triplicar o número de cooperativas de catadores no mercado ou triplicar a capacidade das cooperativas existentes.

"Mais especificamente para o setor dos plásticos, a expectativa é que a PNRS promova o aumento gradual e significativo da quantidade de embalagens a serem destinadas à reciclagem, gerando emprego e renda, além da preservação ambiental", diz o presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), Miguel Bahiense.

Ele calcula que entre 20% e 22% dos resíduos sólidos plásticos são reciclados hoje no Brasil, número comparável aos da média da União Europeia, mas que ainda fica longe de países como a Alemanha, que utiliza a chamada reciclagem energética.

Para Bahiense, o desenvolvimento de tecnologias para a transformação das embalagens plásticas pós-consumo em combustível para a produção de energia elétrica deve ajudar a impulsionar o mercado de reciclagem no Brasil. No entanto, os investimentos nessa técnica dependem do crescimento da coleta seletiva e da formalização dos recicladores.

Em outra frente, a fabricante de resinas plásticas Braskem vem monitorando tecnologias e estudando maneiras de usar o material reciclado como matéria-prima para a produção de químicos de primeira geração. Segundo o gerente de Desenvolvimento Sustentável da empresa, Luiz Ortega, já existem técnicas disponíveis para a transformação dos resíduos em poliestireno e polipropileno, matérias-primas utilizadas na produção do próprio plástico. No entanto, nem todas essas inovações foram testadas ainda em escala e muitas delas são caras demais.

"Estudando e melhorando a qualidade desses produtos, talvez isso possa se tornar um negócio para a própria Braskem", afirmou Ortega em entrevista durante a 6ª Expo Catadores. "De alguma forma, nós temos que reaproveitar esse material, que tem muito valor, muita energia, e vai parar em aterro."

Segundo o executivo, o foco principal da petroquímica seria os chamados rejeitos plásticos, que são aqueles que já passaram por uma triagem e foram considerados inapropriados para a reciclagem mecânica. Ele explica que, se não forem aproveitados, esses resíduos vão novamente para o lixo. "Queremos olhar para isso e trazer tecnologias para decompor esse material para que possa vir a ser matéria-prima."

Hoje, como a técnica ideal ainda não foi encontrada, a reciclagem de plásticos se configura em uma concorrente da Braskem, que deixa de vender insumos virgens. No entanto, garante Ortega, a empresa continua trabalhando para fomentar o reuso dos materiais, interessada no impacto social e ambiental das medidas.

Gargalos

O diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak, Fernando Von Zuben, destaca o crescimento da cadeia que se forma em torno do trabalho de reciclagem de plásticos, com a redução dos custos de produção e a mitigação do impacto ambiental das embalagens. Segundo ele, porém, ainda existe um gargalo nos impostos cobrados na cadeia recicladora, desde a triagem até a venda do produto reciclado. "Isso gera um grande descompasso. Nós estamos batalhando por uma justiça tributária, porque quando a embalagem inicial foi comprada o consumidor já pagou os impostos necessários", afirma o executivo.

Outro impacto que deve pesar sobre a indústria de reciclagem é o aumento mais recente das contas de luz. Zuben lembra que em todos os processos da cadeia a energia elétrica é um insumo fundamental, o que tem pesado muito sobre esse mercado. De acordo com ele, muitas recicladoras da Tetra Pak são hoje desligadas entre 17h e 21h, os horários de pico de consumo de energia, quando a eletricidade fica mais cara. Essa medida tem um impacto enorme no custo da reciclagem, destaca ele, sobretudo nas despesas com mão-de-obra.

DCI - INDÚSTRIA - São Paulo - SP - 30/12/2015 - Pág. 09

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