Mais de 7.000 toneladas do café nas embalagens individuais foram vendidas no ano passado no país, segundo a consultoria Euromonitor. Já o volume de cápsulas recicladas é tabu no setor.

A líder Nespresso tem um programa com pontos de coleta para devolução do resíduo. A companhia, porém, sob a justificativa de se tratar de dado confidencial, não informa qual percentual de cápsulas vendidas é de fato restituído pelo cliente e reciclado.

O material descartado é levado a uma instalação da Nespresso em São Bernardo (SP), onde o compartimento de alumínio é separado do resíduo de café que sobra em seu interior. A Folha solicitou uma visita ao local, mas a empresa não consentiu. Também não informou se a capacidade de separação de cápsulas sujas é grande o suficiente para dar conta de toda a produção vendida no país.

BORRA

Após a separação do material, o alumínio segue para uma empresa de reciclagem em Suzano, e a borra de café, para Mogi Mirim, onde se torna composto orgânico.

Quando se instalou no Brasil, a Nespresso não achou uma empresa que separasse o material. Então resolveu, ela própria, assumir a função.

Em países com políticas ambientais avançadas, como Alemanha, Finlândia e Suécia, a empresa não precisa assumir a limpeza do material, diz Francisco Campiche, gerente na Nespresso. A indústria paga taxas e os governos protagonizam a reciclagem.

Outra gigante do setor, a Dolce Gusto inaugurou em dezembro, em Minas Gerais, sua primeira fábrica com tecnologia para fazer cápsula fora da Europa. Por meio de nota, informa que recentemente iniciou a expansão de pontos de coleta em lojas e na sede da fabricante Nestlé.

O Grupo 3corações, também em nota, diz que está em fase de construção de fábrica de cápsulas que "contará com uma proposta para a solução de reciclagem", mas não descreve o projeto.

Por enquanto, a recomendação da 3corações é a mesma feita por Alexx Noga, diretor da Kaffa, indústria que encapsula cerca de 2,5 milhões de unidades por mês para terceiros. A Kaffa tem 95 marcas de café em seu portfólio, reflexo do interesse de pequenos produtores pela chamada monodose.

Noga sugere que, no caso das marcas que não fazem coleta e separação, o próprio cliente separe os componentes das cápsulas –filme laminado, plásticos e resíduos orgânicos– e os destine a coletores ou cooperativas.

"O processo é lavar e reciclar, mas, para o consumidor, não é tarefa fácil. Os materiais são de difícil separação", afirma Vivian Fernandes, pesquisadora da USP.

A Abal (entidade do setor de alumínio) diz que entre seus associados não há quem desmembre cápsulas inteiras. A Plastivida, que representa a cadeia do plástico, responde o mesmo.

Nathan Herszkowicz, da Abic (do setor de café), estima que em alguns anos a indústria da reciclagem despontará para acompanhar a consolidação da cápsula.

Para Tereza Carvalho, coordenadora do laboratório de sustentabilidade da USP, as empresas deveriam incentivar seus clientes. "Se dessem uma cápsula nova para cada x devolvidas, os clientes teriam um estímulo para sair de casa e devolver o lixo."

LOGÍSTICA REVERSA

Em 2015 foi assinado o maior acordo setorial de logística reversa do país, que regulamenta o fluxo de todo tipo de embalagem, para elevar investimentos em conscientização, coleta e rastreamento. Os acordos setoriais estão previstos na Política Nacional dos Resíduos Sólidos, de 2010.

"A responsabilidade não é só da empresa. É do cidadão até o poder público", afirma Victor Bicca, presidente do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem).