Em artigo publicado no Blog do Planeta (Época – 23/03/2016), o jornalista ambiental Reinaldo Canto falou sobre uma “batalha acirrada que colocava em lados opostos aqueles que defendiam a sacola plástica gratuita nos supermercados contra aqueles que pediam pela cobrança e mesmo a substituição por sacolas biodegradáveis”. Essa visão reducionista não contempla que a tal batalha vai além: de um lado, os supermercados defendem seus interesses econômicos; de outro, há quem defenda os direitos da população e a preservação ambiental.
As sacolas plásticas são o terceiro item de custo dos supermercados. Portanto, transferir para o consumidor essa conta não é mau negócio para os supermercados. A cobrança das sacolinhas de fato contribui para a redução, mas implica em problemas mais profundos.
O consumidor, que já vem pagando a alta conta da inflação, da queda do ritmo da economia e do desemprego, é penalizado mais uma vez com um novo encargo em seu orçamento, tendo que arcar com embalagens para transportar as compras e outras para descartar o lixo. Estudo realizado pela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) revelou que, sem sacolas gratuitas, as famílias passam a ter um aumento de gastos mensais com embalagens de 146,1%, o equivalente aos custos com o arroz e o feijão.
O caro jornalista escreveu que, em São Paulo, cidade onde a cobrança é liberada, a redução de sacolas, graças às novas medidas de cobrança, não causou “tragédias pessoais ou destruição de lares, muito menos ocasionou a queda da qualidade de vida da população”. Talvez ele não tenha se dado conta que, sem as sacolas plásticas gratuitas, muitas pessoas, principalmente as menos favorecidas economicamente, que infelizmente ainda compõe a maior parcela da sociedade brasileira, não podem comprar sacos de lixo para descartarem os resíduos urbanos.
Aliás, pesquisa Datafolha de agosto de 2015 já apontava que 83% da população não pagaria pelas sacolas nas cores verde e cinza, com mensagens sobre coleta seletiva e descarte de resíduos, que seriam usadas como veículo impulsionador da coleta seletiva no município.
Se as sacolas fossem dadas de graça pelos supermercados, a população, que já tem costume de descartar o lixo doméstico nas sacolinhas, hábito de mais de 90% da nossa população, poderia estar engajada na separação dos recicláveis, que chegariam em quantidade suficiente às centrais de triagem da prefeitura, hoje subutilizadas. Com a cobrança, não há separação de lixo, nem sequer descarte correto. Basta acompanhar o noticiário local para nos depararmos, diariamente, com toneladas de lixo jogadas de qualquer maneira pela cidade. E a Zika? E a Dengue? E a Chikungunya?
Com a cobrança das sacolas plásticas há prejuízo à população e ao meio ambiente e, tudo isso, somente para o benefício do bolso dos supermercados. Cobrança é diferente de educação ambiental, que faz o cidadão compreender que há valor nos resíduos – entre eles os plásticos pós-consumo - e que eles devem ser reciclados; que há riscos a sua própria saúde e ao meio ambiente quando o lixo é jogado indiscriminadamente na natureza, sem uma embalagem plástica para isolar o lixo do meio ambiente. O próprio jornalista cita o lixo nos mares, que é, em sua grande parte, originado de descarte incorreto na zona costeira. Sem educação ambiental, as boas práticas não se tornam perenes.
Essa batalha é muito maior do descreve o citado jornalista. Somos favoráveis à educação ambiental, ao direito do consumidor e à preservação do planeta, mas ainda prevalece o benefício econômico dos supermercados, e só. Infelizmente, a cidade de São Paulo está perdendo a batalha para essa visão curta.
Miguel Bahiense é presidente da Plastivida, instituto socioambiental que atua para disseminar informações precisas e científicas sobre os plásticos. Site: http://www.plastivida.org.br