Às vésperas de completar um ano, o “Fórum Setorial dos Plásticos – Por Um Mar Limpo” é um marco na atuação do setor industrial brasileiro para compreender a origem da poluição dos mares, articular entre diversos setores e propor ações para mitigar esse problema de grandeza mundial. Com ações que envolvem públicos diversos – a população, as indústrias e o poder público – o fórum tem atuado em níveis nacional e internacional, com o objetivo de contribuir com a mudança desse cenário.
Em 2012, após a Plastivida se tornar signatária da “Declaração Global da Indústria dos Plásticos”, movimento mundial pela preservação do ambiente marinho, a entidade firmou um convênio com o Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP) para a realização de um projeto técnico-científico sobre o tema. Ao longo dos anos, diversos estudos científicos e atividades foram e continuam sendo realizados pelo IOUSP em parceria com a Plastivida, com o objetivo de mapear e obter informações técnicas sobre este assunto no Brasil.
Inicialmente, foi feito um amplo levantamento bibliográfico, nacional e internacional, de artigos científicos sobre o assunto. Entre esses trabalhos, procurou-se identificar a magnitude do problema do acúmulo de resíduos, padrões relacionados à sua distribuição e às principais fontes geradoras, as abordagens metodológicas utilizadas e, principalmente, as tendências em termos de monitoramento aplicado em outras partes do mundo, buscando a comparação com o realizado no Brasil.
Foram realizados o diagnóstico e o monitoramento dos resíduos em praias brasileiras (SP, BA e AL), de forma a estabelecer séries temporais de dados e conhecer o tamanho e as características deste problema no Brasil; dimensionar a contribuição do país para o problema global, bem como levantar a origem dos resíduos nos mares e praias brasileiras.
Outro importante produto do Convênio foi, a partir de uma iniciativa da cadeia produtiva global dos plásticos, o Programa “Pellet Zero”, que realizou uma análise detalhada, mapeamento e entendimento dos diferentes processos de perda de pellets plásticos para ambientes marinhos, considerando toda a cadeia produtiva de plásticos no Brasil, o que resultou em uma versão brasileira do Manual de Orientações “Pellets Zero”, adaptado à nossa realidade, que está sendo discutido e analisado dentro do setor.
Também foi realizado um diagnóstico sobre a poluição da Baía de Guanabara, cujos resultados apontam que a participação dos resíduos plásticos se encontra “na ponta do iceberg”, ou seja, os plásticos correspondem à parte visível da poluição. O restante são esgoto doméstico, drogas e medicamentos, resíduos agrícolas industriais e urbanos entre outros, “o que mostra que o problema da poluição do ambiente marinho é muito maior que o que aparece”, afirma o professor e pesquisador, Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP), que vem coordenando os trabalhos em conjunto com a Plastivida desde 2012.
Uma das ações de educação é o projeto do IOUSP em conjunto com a Plastivida, intitulado “EnTenda o Lixo”, que realiza, junto à população, atividades que contemplam informações técnicas, estudos sobre a situação dos resíduos nos mares, coleta de materiais e reciclagem. Durante as ações os visitantes participam de um processo prático de coleta de amostras de resíduos para acompanhar a observação das características e origem do material coletado. Com base nas informações geradas, os educadores estimulam reflexões sobre as possíveis estratégias para a solução do problema. A primeira tenda foi montada em parceria com o Museu do Amanhã (RJ), durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, e o projeto segue acontecendo pelo litoral Brasileiro.
O “Fórum Setorial dos Plásticos – Por um Mar Limpo” realiza diversas interações em escolas, universidades e outros eventos, levando ao conhecimento do público, não só as causas e os impactos da poluição dos mares, mas principalmente as alternativas de participação do cidadão comum na busca da solução do problema.
Uma das conclusões desses estudos é que grande parte do resíduo que chega aos mares vem do continente. “Com isso em vista, um dos braços de atuação do Fórum é junto ao poder público, no que tange à gestão dos resíduos, e junto à população em geral, no quesito educação ambiental: consumo consciente, coleta seletiva, reutilização e reciclagem”, afirma Miguel Bahiense, presidente da Plastivida. Ele completa; “não importa o que é encontrado nos mares. Seja plástico ou não, seja reciclável ou não, não deveria estar ali. Precisamos atuar pela conscientização para evitar o descarte inadequado, seja qual for o produto, de um pneu a uma garrafa, de plástico ou não, por exemplo. Nós enquanto cidadãos somos parte do processo”.
Outra conclusão a que se chegou, é que a questão do lixo nos mares se trata de um problema multisetorial, ou seja, há uma imensa variedade de resíduos. “Assim, a degradação do ambiente marinho está fortemente associada a má gestão dos resíduos sólidos urbanos, seja no entorno deste ambiente ou mesmo em cidades não costeiras, afinal os rios, mais cedo ou mais tarde, desembocam no mar” afirma Turra.
O “Fórum Setorial dos Plásticos – Por um Mar Limpo” reúne até o momento 16 instituições: além da própria Plastivida, Abief, Abiplast, Abiquim, Abrade, Adirplast, Braskem, Dow, Instituto Brasileiro do PVC, Simperj, Simpesc, Simplás, Simplavi, Sindiplast, Sinplast, Sinproquim. Conta com uma plataforma online que aglutina informações, reunidas desde 2012, além das propostas de educação ambiental, prevenção, coleta e reciclagem, e passa a ser uma ferramenta dessa mobilização setorial (www.porummarlimpo.org.br).
Uma questão mundial – Este trabalho é realizado em consonância com o Governo Federal, por meio da Gerencia Costeira do Departamento de Zoneamento Territorial do Ministério do Meio Ambiente que, inclusive, esteve presente no evento de lançamento do Fórum Setorial Por Um Mar Limpo. Turra tem participação no Grupo de Integração do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro onde tem promovido discussões sobre o tema.
O Fórum Setorial dos Plásticos também se envolve e acompanha ações que estão em andamento em nível internacional, e que demandam a participação estruturada do Brasil. O plano de ação para o combate do lixo nos mares do G7 está sendo implementado com o apoio do Banco Mundial, utilizando uma abordagem sistemática por meio do Global Environmental Facility (GEF) entre os anos de 2017 e 2022. Como desdobramento dessa iniciativa está sendo programado um workshop do G20 para 2017, para abordar essa temática.
Destaca-se também a Ocean Conference, que foi realizada na sede das Nações Unidas, em junho de 2017, coincidindo com o Oceans Day. Essa reunião dará suporte à implementação da Meta de Desenvolvimento Sustentável 14: Conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos, na qual a temática dos resíduos é altamente relevante.
Em paralelo, foi criado o grupo de aconselhamento da avaliação UNEA 3 (United Nations Environmental Assembly), que visa a identificação de estratégias, abordagens e regulações em nível internacional, regional e sub-regional para combater o lixo nos mares, incluindo os microplásticos. Esse processo ocorrerá ao longo de 2017, com a UNEA prevista para dezembro.
Essas ações e discussões terão a oportunidade de serem disseminadas e capilarizadas na 6th International Marine Debris Conference, a ser realizada em San Diego em março de 2018.
“O Brasil tem importante função diante deste cenário e, para tanto, a estruturação interna, multisetorial (além dos plásticos) é necessária, assim como o compartilhamento da responsabilidade, entre a indústria, o varejo, o poder público e a sociedade, para que todos tenhamos a clareza sobre o papel de cada um como consumidor e como gestor de nossos resíduos, em prol da preservação dos mares e do Planeta como um todo”, afirma Alexander Turra.
Para saber mais e para assinar a Declaração de Intenções e participar deste movimento, acessewww.porummarlimpo.org.br.