A grande quantidade de lixo nos oceanos é um problema global que afeta as pessoas, a vida marinha e todo o ecossistema. Todos os anos, mais de 8 milhões de toneladas de plástico vão parar nos oceanos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Se nada for feito, até 2050 teremos mais toneladas de plástico do que de peixes nos mares.
“O lixo nos mares é uma questão extremamente complexa, com várias fontes. Em termos gerais, a gente convencionou dizer que cerca de 80% do lixo que a gente encontra no mar vem do continente e 20% vem de fontes marinhas”, explica o oceanógrafo Alexander Turra, “Na estrada, você normalmente vê pessoas jogando resíduos para fora dos carros. Teve um dado recente que estimou que nos primeiros 200 km da Castelo Branco, aqui perto de São Paulo, são retirados cerca de 1.5 toneladas por mês de resíduos. Se você multiplicar isso por todas as estradas que chegam e saem de São Paulo, você tem mais de 10 toneladas por mês, que podem chegar no mar”.
“O problema não é o plástico em si”, diz o presidente da Plastivida, Miguel Bahiense Neto, “se eu substituísse os plásticos por qualquer outra matéria prima, esses produtos teriam certamente o mesmo destino, porque o comportamento inadequado do cidadão, a falta de uma coleta seletiva adequada oferecida pela prefeitura ou mesmo indústrias que não estão preparadas para reciclar os materiais, terminam causando um problema de não ter destinação adequada para aquele resíduo e o impacto é inevitável, ele vai ficar no meio ambiente”.
O excesso de lixo pode prejudicar e até levar animais marinhos à morte, inclusive as aves. Segundo a ONU, 99% das aves marinhas terão ingerido algum tipo de plástico até 2050. Esse aprisionamento de animais marinhos em petrechos de pesca abandonados, perdidos ou descartados, é chamado de pesca fantasma.
“A gente estima que são 70% de todo o lixo no mar são esses petrechos. Por ano, 640 mil toneladas de petrechos são jogados nos oceanos. Isso tem um impacto na vida marinha incomensurável. São mais de 136 mil baleias, golfinhos, tartarugas, que são presas por esses petrechos todos os anos. Isso gera danos aos animais como amputações, estrangulamentos e muitos podem passar meses ou até anos presos nesses petrechos até virem à morte por fome ou então por afogamento”, conta Helena Pavese, diretora executiva da ONG World Animal Protection.
“O problema é muito complexo e é por isso que ele é difícil de resolver sem impacto na sociedade que envolva esses diferentes atores ou responsáveis por essa questão. Não é só a indústria, não é só o governo, não é só o cidadão, é todo mundo junto. Então, todos esses entes, desde o produtor inicial da resina até quem consome precisa ser envolvido nessa discussão”, diz Turra.
Miguel complementa, “A sociedade é uma parte importante nesse processo, para que a gente colete o plástico pós-uso e dê uma nova vida para ele através da reciclagem. Dessa forma a gente consegue recuperar ou reviver os grandes benefícios que os plásticos oferecem à própria sociedade em um ciclo fechado, que hoje chamamos de economia circular”.
“Se a gente ficar esperando para atacar a questão do lixo nos mares, a gente vai continuar tendo muito lixo ainda em 2050 e 2100. A gente tem que olhar essa situação com a gravidade que ela tem e atacar todas as frentes possíveis, mas sem desconsiderar a importância da gestão dos resíduos sólidos, que aparentemente é crucial”, comenta Turra.