Durante sua vida útil, o EPS (poliestireno expandido) oferece diversas vantagens para as edificações, como maior conforto térmico e redução de cargas sobre estruturas e fundações. A lista de benefícios continua mesmo após reformas ou demolições, afinal, o material descartado é totalmente reciclável.

Além de se transformar em matéria-prima para outros produtos, a reutilização auxilia na diminuição de resíduos enviados para aterros. “A reciclagem faz o EPS, assim como todos os outros tipos de plástico, retornar ao ciclo produtivo, proporcionando diversos benefícios no pós-consumo”, afirma Ivam Michaltchuk, coordenador do Comitê de EPS do Instituto Plastivida, indicando que as taxas de reciclagem mecânica de plásticos em geral, no Brasil, são próximas às da Europa: 21% e 25%, respectivamente.

Ele adianta que ainda há espaço para evolução. “Temos muito para melhorar, crescimento que deve ser motivado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)”, destaca Michaltchuk. Sancionada pelo governo federal em 2010, a Lei nº 12.305 estabelecia, inicialmente, que os municípios eliminassem os lixões até o fim de 2014. Porém, em 2015, o Senado prorrogou o prazo, que agora varia entre 2019 e 2021 em função do número de habitantes de cada cidade.

 

RECICLAGEM DO EPS

“Atualmente, a reciclagem do EPS no Brasil gira em torno de 30% de todo o material coletado no pós-consumo”, informa Michaltchuk. Somente em 2016, foram reaproveitadas mais de 35 mil toneladas do material. Por outro lado, o descarte como resíduo comum é considerado irregular, pois se trata de substância não biodegradável, ou seja, que não entra em decomposição naturalmente.

"A reciclagem faz o EPS, assim como todos os plásticos, retornar ao ciclo produtivo, proporcionando diversos benefícios no pós-consumo", Ivam Michaltchuk

A reciclagem gera ganhos que vão além dos ambientais, pois é fonte de trabalho e, consequentemente, de renda para cooperativas e catadores de materiais. “Há, ainda, economia de energia no processo produtivo, promoção do consumo consciente, entre muitos outros pontos positivos”, analisa Michaltchuk.

 

LOGÍSTICA REVERSA TÍMIDA

Estabelecer a logística reversa do EPS é obstáculo a ser superado para aumentar os índices de reciclagem. Nos grandes centros urbanos, a prática está se tornando comum, entretanto o mesmo não acontece em cidades menores. “Cada município tem uma política com relação ao retorno de EPS”, diz a engenheira Marina Bouzon, professora e coordenadora dos cursos de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Segundo a docente, é pequena a quantidade de cidades com esse tipo de iniciativa bem estabelecida. “Há uma barreira para a logística do material. A baixa massa transportada por frete acaba encarecendo o processo. Dessa forma, quando não há retorno financeiro, fica difícil estabelecer os responsáveis pelo manejo dos resíduos dentro da cadeia de suprimentos que envolve o EPS”, analisa.

 

Outro entrave está na postura dos consumidores, pois muitos desconhecem que se trata de material reciclável, assim como são poucos que sabem que ele é um tipo de plástico. Para mudar esse cenário, alternativa interessante seria a atuação do poder público no sentido de educar a população, seja através de leis de incentivo, como descontos fiscais, seja por meio de políticas relacionadas à disseminação da informação sobre reciclagem, conforme sugere Bouzon.

O DESAFIO DO TRANSPORTE

Existem exemplos que podem ser seguidos, de empresas que conseguem equacionar financeiramente o transporte do EPS para a reciclagem. Alguns fabricantes de materiais de construção recolhem as sobras resultantes de recortes ou ajustes e os levam de volta para a indústria. Também combinam com seus clientes o recolhimento dos resíduos pós-obra que seriam descartados incorretamente.

Para resolver o problema do transporte, a professora da UFSC recomenda a criação de parcerias entre indústrias e universidades, com o objetivo de encontrar estratégias tecnológicas eficientes em termos de custo do processo reverso. “Em pouquíssimo tempo, iniciativas ambientais deixarão de ser eletivas e serão imperativas para a conservação da nossa qualidade de vida em termos de saúde pública e sobrevivência do atual modelo econômico-social”, adverte.

RECOLHIMENTO DO EPS

Algumas empresas estão se organizando para estabelecer canais reversos focados na coleta do EPS. “O problema é que não temos ainda leis ou acordos setoriais que definam claramente quem é responsável pelo quê”, diz Bouzon. Entre as opções encontradas está o recolhimento do material usado em embalagens pelas próprias redes varejistas. Quando os caminhões vão realizar a entrega de novos produtos, aproveitam para coletar o plástico.

Já para outras aplicações do material, ganha espaço a instalação de pontos de coleta voluntária. Mantidos pelos fabricantes, eles recebem os resíduos de EPS transportados pela própria população. Para saber a localização dessas estruturas, basta entrar em contato com o canal de atendimento aos clientes das empresas.

O PROCESSO DE RECICLAGEM

Na construção civil, o processo de reciclagem do EPS começa ainda dentro do canteiro. É preciso separá-lo de todos os outros materiais, pois a presença de elementos estranhos afeta negativamente o trabalho.

Quando chegam na cooperativa, os resíduos passam por uma nova verificação, ainda com o objetivo de identificar substâncias não desejadas. Nessa fase, são eliminadas sujeiras, óleos, cimentos, tintas e graxas. Dependendo do nível da contaminação, são necessárias tecnologias complexas para a limpeza, o que inviabiliza financeiramente o processo. Quando está contaminado, o material entra para a classe de resíduos de construção.

Depois de separado, o material é prensado, enfardado e encaminhado para a indústria de reciclagem. “Os fardos de EPS passam por uma degasadora, que retira todo o ar presente no material, o que reduz em 90% seu volume total. Depois, é triturado e processado. Por último, passa na extrusora, que forma paletes de EPS”, detalha Michaltchuk. Esse procedimento é conhecido como reciclagem mecânica.

"Há uma barreira para a logística do material. A baixa massa transportada por frete acaba encarecendo o processo. Dessa forma, quando não há retorno financeiro, fica difícil estabelecer os responsáveis pelo manejo dos resíduos dentro da cadeia que envolve o EPS", Marina Bouzon

Há, ainda, outro tipo de reciclagem, conhecida como química, que utiliza reatores capazes de manter as propriedades do composto. Como o uso do EPS em obras ainda é “novidade” no Brasil, continua baixo o nível de reaproveitamento de materiais de construção fabricados a partir dessa matéria-prima. No entanto, a tendência será de crescimento quando as edificações que utilizam essa solução começarem a ser reformadas ou demolidas.

Em edificações, o EPS utilizado é da Classe F — que contém agentes que retardam a propagação de chamas. “Durante a reciclagem, esse tipo de material pode ser misturado com os de Classe P (sem retardantes) sem nenhuma consequência”, garante Michaltchuk.

No que se transforma?

O EPS reciclado pode ser utilizado na construção civil, na indústria de mobiliário, na confecção de itens domésticos, em calçados, entre outros. Na confecção de móveis, por exemplo, o material é aplicado em pufes, no enchimento de bancos, em vasos de flores e molduras de quadros. Também é aproveitado na fabricação de materiais escolares, como canetas esferográficas e réguas.

“Na construção civil, o EPS reciclado é misturado à areia e ao cimento para preparação de concreto leve, muito utilizado no preenchimento de lajes. O aproveitamento também ocorre na fabricação de telhas termoacústicas (sanduíche), rodapés, decks para piscinas, elementos de decoração, materiais isolantes térmicos e acústicos, entre outros”, exemplifica Ivam Michaltchuk.

COLABORAÇÃO TÉCNICA

Marina Bouzon – Formado em Engenharia de Produção Civil na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com período de um ano de “graduação sanduíche” no INSA de Lyon, na França. É mestre pelo programa de pós-graduação de Engenharia Mecânica na área de manufatura enxuta e doutora em Logística pelo programa de pós-graduação em Engenharia de Produção. Durante seu doutorado, residiu durante um ano na Dinamarca para estudar na University of Southern Denmark, com o renomado professor Kannan Govindan, especialista em logística reversa. É professora do Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC e coordenadora dos cursos de Engenharia de Produção do mesmo departamento. Fora da academia, atuou em empresas como Embraco, Intelbras, AcelorMittal, além de ter trabalhado como consultora empresarial.

Ivam Michaltchuk – Formado em Administração de Empresas pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), tem MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa. É pesquisador e autor de projetos de educação ambiental. Diretor da MSI Treinamentos, ele ocupa também os cargos de conselheiro e coordenador do Comitê de EPS do Instituto Plastivida.

 

Fonte: AECWeb